A Maçonaria no Ceará

Algumas palavras sobre a história da Maçonaria no Ceará

A Maçonaria na província

Ao se falar em história da maçonaria em determinado lugar, é comum a busca pela fundação da primeira loja maçônica ali. No entanto, o pensamento maçônico e, muitas vezes, a atuação de maçons em diversos lugares precede a fundação de uma Loja física. Pode-se dizer, sem medo de incorrer em erro, que a fundação de uma Loja Maçônica é a materialização da atividade maçônica, um marco para que os maçons que residem e visitam o lugar possam, a partir de determinada data e local, reunirem-se de forma regular e de acordo com regulamentos próprios.

Brasão do Império do Brasil

Maçonaria Cearense no Império do Brasil

“Os primeiros registros de loja maçônica remontam à década de 1830, mas é possível que já se tivesse notícia de Maçonaria na província bem antes.  A participação do Ceará nos movimentos revolucionários de 1817 e 1824, que contaram com a presença ativa de diversos maçons, é um indício de que o espírito maçônico já tivesse pairando pelo Ceará.” (ABREU, 2009)

Antes da fundação de lojas por aqui, diversos maçons visitaram ou residiram por estas bandas. Dentre eles, os historiadores citam: 

José Martiniano de Alencar
José Ferreira Lima Sucupira (Padre Sucupira)
Domingos José Martins
João Antônio Rodrigues de Carvalho
Manoel Caetano de Gouveia
Naturalista Feijó
Antônio Gomes da Silva
Padre Antônio Moreira
Padre Luiz Inácio de Azevedo
Além dos Padres do interior: Mororó, Ibiapina, Manoel Pacheco Pimentel. Etc.

Primeiras Lojas Maçônicas

Há documentação que aponta a existência de uma Loja em Aracati já em 1833, mas sem data de fundação ou nome. Consta que seu Venerável Mestre, à época, era o Coronel João Tibúrcio Pamplona. A vila do Aracati foi um importante entreposto, intermediando a comercialização da produção de toda área circunvizinha ao rio Jaguaribe.

“A riqueza e o contato com as gentes mais civilizadas fizeram dos aracatienses os homens mais notáveis da capitania, não só no trajar, nas artes, nas letras e nas ciências, mas nos negócios. Ser Natural do Aracati representava na época, uma legítima carta de apresentação.” (GIRÃO apud ABREU, 2009)

No ano de 1835, o então Senador Martiniano Pereira de Alencar teria fundado a Loja Maçônica União e Beneficência. Teria sido venerável desta Loja, além do Próprio Senador Alencar, o Major João Facundo de Castro Menezes (o Major Facundo).

Uma Loja que participou ativamente da história cearense, especificamente da Questão Religiosa e Movimento Abolicionista, foi a Loja Fraternidade Cearense. Embora não se tenha relato sobre a data de fundação, o irmão e historiador R. Batista Aragão, no Livro Maçonaria no Ceará - Raízes e Evolução (1987), aceita como data de regularização desta Loja a data de 05 de outubro de 1859. Sendo a diretoria neste ano composta dos seguintes irmãos:

  • Venerável: José Domingues de Couto
  • 1º Vigilante: Dr. Miguel Ayres de Nascimento
  • 2º Vigilante: Tomaz Lourenço de Castro e Silva
  • Orador: José Joaquim Gonçalves de Carvalho
  • Secretário: José Joaquim Antônio Ribeiro
  • Tesoureiro: João Batista Gomes
  • 1º Experto: Francisco José Pacheco de Medeiros
  • 1º Diácono: João Franklin de Lima
  • Cobridor: Manoel Moreira da Rocha
  • Arquiteto: José Dias Macieira

De acordo com a historiadora Berenice Abreu, no livro Intrépidos Romeiros do Progresso - Maçons Cearenses no Império (2009), também fizeram parte da Loja Fraternidade Cearense os seguintes irmãos:

  • Loius Sand
  • Adolfo Hoerth
  • Richard P. Hugges
  • Charley Hardy
  • Achille Boris
  • Abel da Costa Pinheiro
  • Manoel Vieira Bastos
  • José Martins Arêas
  • Francisco Luís Carneiro
  • Bernardo José Pereira
  • João Antônio do Amaral
  • Antônio Coelho M. da Fonseca
  • José Maria de Moraes
  • Bernardino Plácido de Carvalho

A Loja Igualdade e as Cisões Maçônicas

A maçonaria brasileira, à época, tinha sofrido uma cisão e existiam duas potências regulares nacionais, a saber: O Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente dos Beneditinos.

A Loja Igualdade nasceu sob os auspícios do Grande Oriente dos Beneditinos em 27 de junho de 1882, em meio às agitações políticas do movimento abolicionista. Embora a Loja Fraternidade Cearense tenha tido um protagonismo maior nos eventos da época, a Loja Igualdade não se furtou em participar. Há relatos de alforrias de escravos em sessões maçônicas e também no Clube Cearense, por ocasião de solenidade da Sociedade Cearense Libertadora, ocasião em que 72 cartas de alforria foram entregues. 

Cisão de 1927 e a maçonaria cearense

Os eventos que culminaram na Cisão de 1927 na maçonaria brasileira deram origem às Grandes Lojas estaduais.

No Ceará, aderiram ao movimento as Lojas Deus e Camocim e Porangaba. Sendo fundada a Loja Fortaleza nº 03 para que, juntas, as essas três Lojas pudessem fundar a Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará.

A Loja Igualdade, a essa época, não achou interessante participar da cisão, talvez devido à proximidade política com o Alto Corpo do GOB. 

Cisão de 1973 e a maçonaria cearense

Em 1973 a Maçonaria brasileira passou por um processo de declaração conjunta de desfiliação de dez Grandes Orientes Estaduais do Grande Oriente do Brasil.  Com desenvolvimento e adesões rápidas, formaram o chamado “Colégio de Presidentes da Maçonaria Brasileira”, hoje Confederação Maçônica do Brasil – COMAB.

Desta vez, a Loja Igualdade aderiu ao movimento, sendo as primeiras reuniões da nova potência tendo acontecido dentro de suas dependências. A Loja foi então a Loja Igualdade nº 01 do Grande Oriente Independente do Ceará. Uma decisão que viria a lhe custar a perda do seu Templo próprio. (MAGALHÂES, 2008)

Unificação de duas potências

Em 1988, quis o Grande Arquiteto do Universo que as duas maiores potências do Ceará entrassem em acordo e se procedesse a Unificação do Grande Oriente Independente do Ceará com a Grande Loja do Ceará. Portavam os Malhetes Maiores das potências: José Augusto Bezerra e José Linhares de Vasconcelos Filho.

As Lojas do Grande Oriente Independente que não tinham Templos próprios, poderiam se mudar para as dependências da GLMECE, no Templo da Unificação, onde a Loja Igualdade se reúne até os dias de hoje.

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REFERÊNCIAS 

ABREU, Berenice. Intrépidos Romeiros do Progresso: maçons cearenses no Império. Fortaleza: Museu do Ceará/Secult, 2009. 187 p

MAGALHÃES, Zelito Nunes. História da Maçonaria no Ceará. Fortaleza: Grande Loja Maçônica do Estado do Ceará, 2008. 264 p

ARAGÃO, Raimundo Batista. Maçonaria no Ceará: raízes e evolução. Fortaleza: IOCE, 1987. 220 p

VASCONCELOS FILHO, José Linhares de. Gênese da Grande Loja Simbólica Escocesa Soberana para o Estado do Ceará. Fortaleza: Premius Gráfica e Editora, 2018. 208 p

Periódico O Cearense (CE) - 1846 a 1891 - Acervo digital disponível na Fundação Biblioteca Nacional

BRASÃO DO IMPÉRIO Por Tonyjeff, based on work of Jean-Baptiste Debret. - symbol of the XIX century; see [1] for sources; the version with 20 stars can also be seen on coins of the era, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1398657